até o próximo novembro
Novembro.
Liquidações. As maiores promoções do ano. “Vamos enforcar o feriado?”; “Já sabemos onde vamos passar o natal?”; “Nossa, passou o rápido o ano, né?”. E claro, o tal do “dump” de outubro não pode faltar.
É quase o fim do ano. 304 dias já se passaram. E ainda tem até uma guerra acontecendo.
Mas para muitos vale destacar um assunto nesse mês. Vamos falar sobre pele. Discutir diversidade. Conscientizar sobre o preconceito. Abrir rodas de conversa porque de repente racismo é real. Vamos criar uma programação especial na TV. Marcar os todos artistas negros numa postagem.
É, acho que lembraram de nós. De repente, racismo existe. Trouxeram-nos à sua consciência.
E então recebemos convites. Ocupamos os maiores palcos e nossas estampas de faixas estreitas multicoloridas ganham os comerciais, destaques nas lojas. Nossos cabelos viram os modelos para qualquer produto. Nosso som ganha quadro especial.
Acho que a gente só cabe na agenda nesse período.
Pelo menos em novembro nossos sonhos importam. Nossa cultura tem valor e nossa dor não é mais invisível. O que sentimos, de repente, pelo menos em novembro, precisa ser exposto na tela. Na maior possível.
Pra falar a verdade não é tão de repente. Foi planejado. Já tem muito tempo.
Mas vem dezembro. Amanhã é natal. Luzes coloridas, praças e shoppings lotados, filas quilométricas. O branco da barba longa pega todo prestígio. Aliás, é uma vez no ano né?
De repente, não existo. Acabou meu tempo. São 30 dias de 365. Já tá bom o bastante.
Mas vamos esperar. Até lá, nossas lágrimas vão cair, nossas vozes serão silenciadas, nossos corpos, assassinados.
Tudo bem. O próximo novembro é logo ali. Lá a gente toca no assunto.
Fico no aguardo.